Engenharia Genética
- A Arte da Minuciosidade
- 11 de set. de 2018
- 5 min de leitura
Atualizado: 29 de out. de 2018
Por: Ana Beatriz Vida
A engenharia genética é um ramo da biotecnologia que consiste na manipulação e recombinação de genes dos seres vivos. Existem diversas polêmicas envolvendo tal tecnologia, levando em conta que trabalha com material genético, que é aquilo que define nossas características físicas e que produz diversas proteínas que são essenciais para a nossa existência. Portanto, uma técnica que é capaz de alterar a composição genética de um ser vivo acaba assustando algumas pessoas. Apesar disso a engenharia genética não deixa de ser um assunto interessante. Quatro de suas “áreas” mais famosas são a clonagem, as células-tronco, os transgênicos e o teste de DNA.
Clonagem
A palavra “clone”, por definição, significa um organismo geneticamente igual a outro. Clonagem, portanto, é o processo de reproduzir organismos de forma que seus clones sejam idênticos a eles. Existem dois tipos de clonagem: a reprodutiva e a terapêutica, sendo a primeira a reprodução de um indivíduo e a última, a de tecidos.
Tais processos ainda não foram totalmente dominados pelos cientistas, portanto não se pode falar sobre o assunto com muita certeza. O que é garantido é que é possível clonar um organismo. Prova disso é a ovelha Dolly, o primeiro clone feito (Reino Unido, 1996), com sucesso, pela clonagem reprodutiva. Esse processo ocorreu da seguinte maneira: o óvulo sem núcleo de uma ovelha foi fundido com uma célula somática (que não está envolvida com o processo de reprodução e contém material genético completo para criar outro organismo), por meio de pulsos elétricos, formando uma célula nova. Essa célula foi desenvolvida em laboratório até virar blastocisto (embrião de 5 a 7 dias de vida), que foi implantado no útero de uma ovelha. Essa técnica resultou na Dolly, o clone da ovelha que doou a célula somática.
A clonagem terapêutica consiste, basicamente, na geração de tecidos para uso medicinal, possibilitando que alguém que se tornou paraplégico em um acidente, por exemplo, tenha sua medula reconstituída, ou que alguém que sofreu um infarto possa substituir seu tecido cardíaco, evitando, ainda, a rejeição do transplante. Existem exceções, como no caso de doenças genéticas, nas quais o problema está na própria célula da pessoa, tornando, assim, impossível gerar tecidos saudáveis a partir de outras células do paciente. Diferente da clonagem reprodutiva, na terapêutica o óvulo que possui o núcleo de uma célula somática será deixado no laboratório para que se divida e, a partir disso, possam ser criados diferentes tecidos.
Existem críticas à prática desse tipo de clonagem pois muitos acreditam que ele consiste em clonar um feto por alguns meses dentro do útero para poder retirar seus órgãos para serem utilizados. A clonagem é um processo muito caro que os cientistas ainda não dominaram totalmente. Pode-se dizer que existem clones humanos, já que gêmeos são clones naturais, mas a clonagem reprodutiva ainda não foi realizada em pessoas e é ilegal em muitos países.
Células-tronco
As células-tronco conseguem se autorreplicar para originar novos tipos celulares com funções específicas. Existem dois tipos de células-tronco: as adultas e as embrionárias. As adultas estão presentes em várias partes do corpo e possuem uma desvantagem em relação às embrionárias, que têm uma capacidade de transformação maior. Estas são retiradas da massa celular interna de um blastocisto durante a fase de mórula (divisão celular) e podem dar origem a qualquer tecido do corpo. Entretanto, o uso de células-tronco na medicina ainda está em fase de testes. Acredita-se que no futuro as células-tronco terão uma parte na cura de enfermidades como a leucemia, o Alzheimer e a epilepsia, por exemplo. Órgãos poderiam ser feitos a partir delas em impressoras 3D, diminuindo a espera em filas de transplantes e a chance de rejeição do paciente.

Transgênicos
Existem alguns tipos de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), os que têm genes desativados, os que têm a ação de seus genes aumentada e os que recebem genes de outras espécies. Estes últimos são chamados de transgênicos, que recebem pedaços de DNA de uma espécie diferente da sua por meio de enzimas de restrição (ou endonucleases), que são retiradas de bactérias. Elas defendem as bactérias contra o ataque de vírus e cortam o DNA em lugares específicos.
Verduras e grãos resistentes a agrotóxicos, legumes mais nutritivos e alimentos com menos gordura são exemplos de transgênicos. Vegetais estão mais envolvidos em pesquisas sobres esses OGMs, sendo o milho e a soja os mais comuns entre eles, embora animais também possam ser transgênicos. Não se sabe ao certo se o consumo desses alimentos pode afetar negativamente a saúde de alguém que os ingeriu a longo prazo, o que tem gerado grandes discussões entre cientistas da área.
Video aula sobre Teste de DNA - Roteiro e Explicação: Ana Beatriz Vida;
Gravação e Edição: Eric Rodrigues.
A discussão em volta da biotecnologia
Atualmente existem diversas ferramentas que podem alterar o material genético de um organismo. Houve uma grande repercussão sobre uma clínica americana, a Genetics & IVF Institute, que, em 2016, anunciou ter conseguido separar os espermatozoides humanos com cromossomo X (que geram meninas) dos que têm o Y (que geram meninos). Foi feito um experimento no qual quatorze casais que queriam ter meninas realizaram uma fecundação artificial apenas com os espermatozoides X. Desses quatorze, treze conseguiram ter filhos do sexo feminino, tendo como taxa de sucesso 92,9%. O motivo dessa margem de erro é o fato de os espermatozoides com o cromossomo X possuírem 2,8% mais de DNA do que os que carregam o Y. Por conta dessa diferença mínima é difícil a técnica ser 100% eficiente. Há alguns anos, cientistas do Ministério de Agricultura americano descobriram como separar os espermatozoides para selecionar o sexo em sêmen de bois e cavalos. O processo de separação é mais fácil nesses animais, considerando que a variação do espermatozoide X para o Y é maior.
Lee Silver, biólogo americano da Universidade de Princeton, afirma que futuramente os médicos vão aprender a mexer diretamente nos genes dos embriões e, desta maneira, alterar seus traços hereditários. É possível identificar os cromossomos dentro das células de um embrião e detectar alguma doença grave, como, por exemplo, a Síndrome de Down. Pode-se, também, analisar as moléculas de DNA presentes dentro dos cromossomos, para verificar se há alterações genéticas causadoras de patologias. “Optamos por implantar embriões saudáveis e descartamos os que apresentam problemas”, diz o médico Thomaz Gollop, do Instituto de Medicina Fetal e Genética Humana, em São Paulo.
John Campbell, biologista molecular da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, acredita que seria possível evitar que um futuro cidadão tenha câncer enquanto estiver em estágio de ovo (óvulo fertilizado). Para que desse certo, seria necessário inserir no ovo um gene capaz de interromper o crescimento de tumores que seria ativado com uma substância-gatilho quando o câncer se manifestasse. No entanto, esse gene que foi introduzido no ovo não atuaria somente na criança gerada, mas também em seus filhos, netos e assim por diante, dando o primeiro passo para criar uma geração de indivíduos geneticamente modificados.
A questão é: até que ponto o ser humano deve intervir nas características dos seus filhos e filhas? Obviamente, a possibilidade de evitar um futuro câncer ou doença incurável seria um grande avanço na medicina e pouparia a vida de milhões, no entanto, há aqueles que afirmam que seja imoral descartar embriões para evitar o nascimento de crianças com enfermidades, da mesma maneira como se acredita ser imoral fazer um aborto. Já o geneticista Oswaldo Frota-Pessoa, da Universidade de São Paulo, afirma: “Não vejo nada de errado na ideia de produzir indivíduos mais bonitos e mais saudáveis. Todo mundo quer ter filhos maravilhosos e esse será o futuro”.
Apesar das diversas opiniões distintas que pode-se encontrar por aí, a legislação brasileira proíbe qualquer intervenção sobre o patrimônio genético sem fins terapêuticos, isto é, só se pode alterar os genes humanos se for para eliminar defeitos que causem problemas à saúde.
Fontes:
https://escolakids.uol.com.br/celulastronco.htm (imagem células-tronco)
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